Os melhores que já li - mas nem todos [por Renato Reis]
Hoje a postagem é especial. Meu querido amigo aceitou o pedido de falar sobre os seus livros preferidos. Da lista do Renato, li apenas dois. Já fiquei com vontade de ler os demais.Me empresta, Renato?
Os melhores que já li - mas nem todos
Fui provocado a pensar nos melhores livros que já li em vida. Sou um apaixonado pela leitura desde que me entendo por gente e sempre admirei o poder de pensamento, de conhecimento e de imaginação que esse simples hábito nos dá. Por isso essa tarefa não me é nem um pouco fácil. Mas tentarei sintetizar um pouco do meu gosto pessoal, pelo menos para a ficção, num top 5 que escalei.
TOP 5
O Hobbit
Eu AMO J. R. R. Tolkien. Estou sempre lendo e relendo seus livros, artigos escritos sobre seu universo, estudos literários, histórias e todo tipo de mídia existente (inclusive, ele ganhou uma biografia cinematográfica recentemente e, sim, eu amei sua proposta de narrativa, a qual recomendo muito!). Escolher apenas uma obra e deixar as outras de lado cortou meu coração, mas vejo muita luz e força de atração para toda essa fantasia n’O Hobbit.
Nele, Bilbo Bolseiro sai de sua zona de conforto para se aventurar pela Terra Média numa jornada que visa recuperar a montanha de Erebor, lar dos anões descendentes do rei Thráin II. Eles desejam sua terra de volta do terrível dragão Smaug. Ahh, eles têm a ajuda de Gandalf, personagem riquíssimo que aparece em O Senhor dos Anéis também, aos afortunados que já conhecem essa obra, do cinema, dos livros ou de ambos.
Há muito mais que 9 anões, um istari (espécie de semideus na literatura tolkieniana, raça a qual Gandalf pertence) e um hobbit numa aventura infinda por um imenso mundo. Tolkien escreveu com a leveza necessária para se conseguir ler o livro em poucos dias (no meu caso, foi em apenas uma noite) e com uma boa amostra do universo da literatura por ele criada, com base em mitologia nórdica e nos idiomas do seu conhecimento… Por isso sempre o recomendo para “entrantes” da literatura tolkieniana, um dos milhares de motivos que o torna meu livro favorito de todos os tempos.
TOLKIEN, J. R. R. O Hobbit. 7 edição. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013
Guerra do Velho
John Scalzi pode ser extremamente inspirado por Robert Heinlein, que escreveu alguns romances de forte presença militar para deixar suas histórias mais ~emocionantes~. Mas, em quesitos criativos e de originalidade, Scalzi jamais pode ser comparado a ele.
Em Guerra do Velho, há muito mais a essência social e o imaginário humano para o gênero sci-fi. Aquela sensação de Black Mirror, de que tudo pode dar ruim a qualquer momento, também está. O enredo realmente nos transporta para outro mundo, força uma imaginação muito além do que qualquer expectativa pode criar sobre o livro (sim, eu sou apaixonado cegamente pelo livro…).
Para os fãs de sci-fi, como eu, é um prato cheio, com batalhas e tramas de relacionamentos à la Starship Troopers. Mesmo para quem espera por muita sanguinolência e destruição nesse livro, por carregar fortes características militares, consegue uma boa dose de questões sociais importantes de serem discutidas hojes nas entrelinhas e, por incrível que pareça, vice-versa!
O autor é contemporâneo e costuma estar sempre muito próximo ao seu leitor (já viram o twitter dele?), então sua escrita é muito, muito fácil e fluida, fora que toda a ambiência do livro nos transporta para dentro desse futuro-não-tão-distante, fatores esses que fazem desse livro um dos meus favoritos e o posicionar humildemente nessa lista. Recomendo muito!
SCALZI, John. Guerra do Velho. São Paulo: Aleph, 2016.
Um estranho numa terra estranha
De longe esse livro é um dos meus favoritos pelo nível de transcendência a que suas ideias nos levam.
Mike, o personagem principal, um marciano trazido à Terra por entidades do seu planeta, conhecidos por ‘anciãos’, começa a conviver e aprender muito sobre nós e todas as disciplinas humanas com um cientista ricaço e muito sábio. Com o tempo, o cientista tenta entendê-lo, extrair o máximo de conhecimento possível e compreender a raça do planeta, seus costumes, espiritualidade etc.
Há uma série de contratempos que jogam ação sobre o livro, deixando-o muito, muito fluido e realmente “gostoso” de ser lido. A sequência dos acontecimentos é estruturada de uma forma extremamente inteligente, é daqueles livros que se parecem muito com filmes muito bem produzidos, o que evidencia de longe o talento de Robert Heinlein. Sensacional!
Um estranho numa terra estranha, ao meu ver, não se destaca por sucessões aventurescas e diálogos intensos, mas pelo patamar de compreensão sobre a humanidade, sobre a a consciência da existência a que somos arremessados. O que me leva a lembrar, inevitavelmente, a máxima de Assassin’s Creed: ”Nada é verdade, tudo é permitido”. Um tanto filosófico, não? Recomendo fortemente a leitura a todos os terráqueos!
HEINLEIN, Robert A. Um estranho numa terra estranha. São Paulo: Aleph, 2017
Forrest Gump
Acredito que para muitas pessoas a frase "o livro é muito melhor que o filme" faz muito sentido (e com frequência). Não digo, em hipótese alguma, o contrário sobre essa obra de Winston Groom. E mais: o livro, na minha perspectiva, está a anos luz da adaptação de Robert Zemeckis estrelada por Tom Hanks, em todos os aspectos.
A crítica política, socioeconômica e humanitária existentes na estória que muitos já conhecem acontece de uma forma muito mais forte e explícita no livro. Há etapas que são, sim, consideradas "inadequadas" para as telonas, levando em conta a época e as intenções de sua produção cinematográfica em que se insere. Mas a forma como Groom as descreve no livro e as arremata com sua crítica nas entrelinhas é muito bela e elegante, compreensível a muitos leitores, considerando que o personagem principal, Forrest, é dado como um idiota de coração grande.
Cada capítulo é uma aventura única e inédita, se levarmos em conta a época em que foram escritos e seus personagens brilhantemente criados, o que faz lembrar um pouco de Star Wars. É muito difícil o passar de folhas (que acontece rapidamente, pois o livro é tão envolvente…) simplesmente não deixar um rastro de diversão, um pouco de acalento à nossa alma e uma pitada de consciência e emoção sobre as pessoas e o mundo em que vivemos e construímos.
Forrest e Jenny se tornam um casal realmente envolvente durante a estória e prende o leitor ao enredo. Cada parte do livro traz certa apreensão sobre eles, o que dá aquele "calorzinho" da paixão e amizade verdadeiras ao torcer por eles.
As palavras acima não expressam nem um pouco o tamanho do meu amor por este livro.
GROOM, Winston. Forrest Gump. São Paulo: Aleph, 2016.
O vento que arrasa
Uma família inteira, um cachorro, um carro quebrado no meio do deserto e muitas lembranças felizes - e infelizes - fazem deste livro magnífico. Da autora argentina Selva Almada, O vento que arrasa é uma das suas obras mais consagradas.
Incrível como, com poucos elementos, se cria uma história extremamente profunda e cheia de emoção e espiritualidade. Não é preciso muito para se obter uma literatura finíssima, possível de se ler em poucas horas ou minutos (dadas as pouco mais de 100 páginas do livro). Sim, o livro é curto, e sua linguagem é muito fluida e leve. Leitura essencial para quem busca algo que se aprofunde na emoção, com personagens bem explorados e tem pouco tempo para ler.
Garanto que sua história irá impactar tanto a vocês como me impactou tão misteriosa e magicamente ao dividir um momento de crise e reflexão dessa família. É como acordar de um longo sono com sonhos que fizeram muito sentido ao seu pensamento que viaja do passado ao futuro, coerente, terapêutica e serenamente.
AMADA, Selva. O vento que arrasa. São Paulo: Cosac & Naify, 2015
Obrigada, Renato, pelo tempo dedicado a escrever essas palavras!
E você, gosta de algum dos livros compartilhados?